Numa cerimônia do Santo Daime, durante o intervalo de um bailado, eu tive uma crise de pânico. Foi um infernal — uma sensação de estar afundando num abismo escuro, sem ar, sem chão, como se eu fosse explodir por dentro. Naquele momento, só sentia o caos, não entendia nada. O coração disparado, a mente louca, um medo que parecia maior que eu.
Só depois, começando a respirar e pensar, veio a clareza. Essa crise não nasceu do nada. Ela foi o ápice de um acúmulo silencioso — um acúmulo de medo, cobrança, repressão e julgamento que eu venho carregando dentro de mim há um, dois anos, talvez mais.
Do ponto de vista neurológico, o que rolou no meu cérebro foi uma hiperativação da amígdala, aquela região que dispara o sinal de alerta, de medo, de perigo iminente. O cortisol, hormônio do estresse, subiu às alturas, e meu corpo entrou em modo “luta ou fuga” total, mesmo sem uma ameaça real externa. É o corpo preso num loop de alerta, tentando liberar essa energia represada.
Na psicanálise, essa crise é como um corpo falando o que a mente censura. É o inconsciente gritando que algo está sendo ignorado demais — emoções reprimidas, desejos sufocados, dores antigas que a gente tentou enterrar. O pânico é o grito que ultrapassa a censura do ego, é o que fica guardado no corpo quando não tem lugar pra ser falado.
E na perspectiva energética, essa crise é uma liberação súbita e explosiva da energia acumulada, que não teve espaço para fluir. A gente vive num mundo que reprime o sentir profundo, que desvaloriza o caos interno, e isso cria bloqueios que a energia vital precisa romper. A crise é esse rompimento forçado, um tsunami interno que sacode tudo, para depois, quem sabe, renovar.
Entender isso me deu poder. Porque não é fraqueza, não é drama. É o corpo me mostrando que esse sistema interno está sobrecarregado e pede ajuda. Que as emoções que evitei sentir estão pedindo passagem.
O que aprendi é que o corpo fala a linguagem do sentir, o inconsciente fala na linguagem dos símbolos e da repressão, e o sistema nervoso reage com tempestades quando não há escuta.
Então, a saída não é empurrar a crise pra baixo, fingir que está tudo bem, nem depender só de remédios ou estratégias superficiais. É acolher o que está guardado, olhar de frente para o medo e para a dor, criar espaço para sentir, para respirar, para transformar essa energia em algo que me fortalece, e não que me destrói.
A crise, a ansiedade, o pânico… são convites urgentes para desacelerar, para cuidar da mente, do corpo e da alma, para reconstruir um espaço interno seguro onde eu possa habitar plenamente.
Depois daquela crise, algo mudou em mim. Eu comecei a entender que o verdadeiro trabalho está na escuta profunda, no acolhimento sem julgamentos, na presença amorosa com o meu próprio caos.
E aí, o medo começa a perder força. O corpo começa a relaxar. A vida volta a fluir.
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