A traição, enquanto fenômeno humano, toca em camadas profundas da psique, da cultura, da energia e do inconsciente coletivo. Quando falamos de traição masculina e traição feminina, precisamos reconhecer que existem diferenças reais, tanto do ponto de vista psicológico quanto neurobiológico, além de fortes condicionamentos sociais e culturais que atravessam gênero, história familiar e relações de poder.
Para muitos homens, a traição se apresenta como uma necessidade de afirmação do ego. Uma forma de se reencontrar com um sentimento de valor, potência e virilidade, muitas vezes abalado pelas pressões do cotidiano, pelas cobranças emocionais e pela própria insegurança interna. A traição masculina é frequentemente conectada à ideia da "caça". Um impulso ancestral que, em desequilíbrio, vira compulsão por novidade, por conquista, por validação externa. No nível cerebral, a dopamina — o neurotransmissor do prazer e da recompensa — tem papel central nesse padrão. Cada nova conquista aciona um sistema de recompensa que vicia e alimenta o ciclo.
Já a traição feminina, via de regra, emerge de um lugar emocional. Ela costuma surgir como resposta à solidão, à negligência afetiva, ao silenciamento dentro da relação. Muitas mulheres que traem relatam não se sentirem vistas, cuidadas, amadas. Quando a mulher trai, ela está buscando uma reconexão com a própria essência. É como se dissesse: "eu não mereço essa ausência, eu quero me sentir viva de novo". No campo emocional, o centro da traição feminina costuma estar no coração e no laríngeo — chakras ligados à expressão, ao sentir e à verdade interna.
Energeticamente, podemos dizer que o homem trai para se expandir e fugir de si, enquanto a mulher trai como uma tentativa de se reencontrar. Claro que há exceções. Mas em muitas histórias, a mulher aguenta calada, acredita que se for boa o suficiente, ele mudará. Carrega a família nas costas, repete o padrão da mãe, da avó, se esforça para ser amada. Já o homem, muitas vezes, apenas absorve essa entrega como um dado da realidade, sem refletir sobre a profundidade do que está sendo oferecido.
E assim, gerações se repetem. Mulheres que se anulam, homens que vivem na fantasia da novidade. Mulheres que acreditam que, tratando bem, vão ser tratadas bem. Homens que se sentem autorizados a errar, porque não enfrentam consequências reais. Homens que traem e são perdoados, celebrados, desejados. Mulheres que traem e são julgadas, chamadas de frias, levianas, desequilibradas.
No fundo, toda traição é uma traição à própria essência. Trair é se desconectar da sua verdade. Quando a traição vira um padrão, ela denuncia um abismo interno: um boicote àquilo que realmente se quer. É como negar a própria projeção, abandonar a imagem que um dia te fez brilhar os olhos. É por isso que a traição nunca é apenas com o outro. É uma autotraição.
Falar de traição é falar de verdade. E verdade exige coragem. Coragem para encerrar ciclos, para não aceitar migalhas, para sair da repetição ancestral de mulheres que aguentam e homens que fingem não saber o que causam. Cada vez que uma mulher escolhe se amar, se priorizar e sair de uma relação sem alma, ela quebra esse padrão. E cada vez que um homem escolhe ser verdadeiro, sensível, e responsável por suas emoções, ele também quebra.
Talvez seja disso que a gente precise. Menos compulsão, mais presença. Menos caça, mais encontro. Menos repetição, mais consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário