A dor não é pela pessoa. É pela fantasia.
Você já sofreu por alguém com quem ficou poucas vezes? Um contatinho. Uma troca de mensagens. Um beijo, talvez dois. E quando aquilo terminou — ou simplesmente sumiu — você se viu sofrendo como se tivesse perdido o amor da sua vida?
Isso acontece muito. E é importante entender: o que dói não é o fim da relação curta. É o fim da história que o seu ego criou.
O ego é um roteirista brilhante. Ele pega um gesto gentil e transforma em alicerce de uma parceria. Ele vê uma conexão e constrói um futuro inteiro sobre aquilo. Só que, muitas vezes, a realidade nunca correspondeu ao roteiro. A relação era rasa, mas a projeção era profunda.
O sofrimento vem da quebra dessa projeção. Da destruição do castelo que você construiu em silêncio. Aquele contatinho virou símbolo de uma ideia muito maior: a de ser vista, a de ser amada, a de finalmente ter algo que preencha. Então, quando a coisa desmorona, não é ele que você perdeu. É tudo que você queria que ele fosse.
Isso é a fantasia do ego.
E o ego fantasia porque ele precisa de controle. Ele não quer lidar com o real — que é incerto, caótico, muitas vezes frustrante. Ele prefere viver em cima da expectativa, porque ali ele ainda tem poder. Enquanto a história não se prova falsa, ela pode ser tudo. Ela pode ser mágica. Ela pode salvar.
E por isso dói tanto perder algo que “nem começou”. Porque, pra dentro de você, já estava muito adiantado. Já era. Já tinha nome, já tinha forma, já tinha vida.
Mas a cura está em voltar pro corpo. Em voltar pro agora. Em encarar o que realmente houve — não o que você gostaria que tivesse acontecido. Está em assumir: “doeu porque eu criei demais”. “Doeu porque eu idealizei.” “Doeu porque eu estava projetando uma solução pra um buraco interno.”
E aí, sim, dá pra começar a se libertar. Porque ninguém te enganou. A mentira foi interna. E se foi criada dentro, pode ser desfeita dentro também.
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