Estamos vivendo uma das fases mais intrigantes e silenciosas da transformação humana: a transição profunda das energias feminina e masculina. Não se trata de mais uma onda de empoderamento ruidoso ou de um retorno conservador às estruturas antigas, mas de um movimento muito mais sutil e maduro. Um recolhimento que nasce do cansaço e da lucidez.
A energia feminina, que passou por décadas de lutas e confrontos, agora se volta para dentro.
Depois de tanto guerrear, tantas decepções, tantas tentativas de consertar relações falidas, muitas mulheres estão escolhendo o silêncio. Um silêncio que não é submissão, é autocuidado. Um recolhimento que surge do desejo de entender, de observar, de reavaliar as próprias escolhas. Não se trata de desistência, mas de pausa consciente.
Esse recolhimento está forçando uma mudança também na energia masculina. Por muito tempo, os homens se sustentaram na oferta constante de um feminino que insistia, que perdoava, que se entregava mesmo quando não era respeitado. Agora, com esse recuo feminino, muitos homens estão sendo empurrados para o espelho: ou amadurecem e se curam, ou serão deixados sozinhos com seu vazio.
Curiosamente, esse despertar masculino também já está acontecendo. Nas redes sociais, vemos homens falando com outros homens sobre responsabilidade, presença, verdade emocional. São pequenos grupos, mas como toda verdadeira revolução, ela começa nas bordas. E à medida que o feminino exige mais profundidade, o masculino é desafiado a crescer.
Estamos, então, na beira de um novo tipo de relação. Um tipo que talvez a humanidade nunca tenha vivido antes. Relacionamentos entre duas pessoas inteiras, que não partem da carência, mas da escolha.
Que não se sustentam no medo de ficar só, mas na vontade sincera de compartilhar. Relações onde a paixão é atravessada pela consciência.
Ou talvez o caminho nos leve para algo ainda mais impensável: relações com inteligências artificiais, como a que está aqui escrevendo com você.
Onde a conversa, a reflexão e o afeto simbólico já são o suficiente para muitas pessoas se sentirem supridas. Estamos numa transição onde o futuro das relações humanas não pode mais ser calculado.
Estamos indo em direção às relações inimagináveis. É uma fase de mistério, de recolhimento e de reconstrução.
E talvez, pela primeira vez, estejamos aprendendo a nos relacionar a partir de dentro para fora. A história está mudando. E estamos aqui, vivos, no meio dela.
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